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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Estranho

A porta se abriu, eu ainda de cabeça baixa só notei os sapatos puídos e desalinhados no chão. Detive-me a olhá-los sem contudo, indagar-me o que fazia ali. Ouvi uma voz dolente que me convidava a entrar. Meus olhos embaraçados não reconheceram de início aquela pessoa. Depois de instantes voltei a mim e deduzi que poderia ser meu pai. Estava mais velho, mais baixo talvez. Continue seguindo-o rumo ao corredor, este largo, diferente das lembranças que tinha da casa quando ainda menino. Muito solícito, me ofereceu um café, recusei prontamente. Não me recordava, perdido nos pensamentos, o motivo da visita, um retorno naquela casa. Tinha certeza que não poderia me deter muito tempo naquele ambiente.O senhor, pediu escusas e retirou-se da sala, caminhando até o corredor, sumindo no escuro das janelas fechadas.Continue sentado e observava ao meu redor o que havia modificado todos estes tempos, quando estive ausente.Absorto em minhas lembranças naquele momento, não notei que havia ficado muito tempo ali esperando o retorno de alguém, que não veio.Voltei para minhas lembranças e como num passe de mágica, vi correndo uma criança, me dei conta que era eu, correndo, pulando ora rindo, ora quieto. Buscava o fundo da casa, lá tínhamos uma frondosa árvore, onde, com olhos ávidos, na mais tenra curiosidade, sondávamos as montanhas. Elas, que perdíamos de vista, eram exuberantes e nos guiavam ao horizonte, onde imaginávamos todo um novo amanhecer.Ficávamos até o anoitecer, quando mamãe nos chamava para o banho e a refeição que era servida na mesa, guardada as devidas proporções da simplicidade, era de um requinte rebuscado.Não iniciávamos a ingestão dos alimentos, sem contudo, as orações que sempre entoavam bons modos das almas tementes a Deus.Minha viagem nas lembranças foi interrompida, quando me dei conta que já se passara horas ali sentado esperando. Levantei-me atônito e resolvi buscar o interior da casa, com a esperança de encontrar alguém. Me encaminhei ao corredor, ainda escuro, mostrava nuances dos quadros na parede. Algumas fotografias amareladas, outras de paisagens não muito estranhas para meu deleite. Muitas, porém, não eram da minha infância. Cheguei ao final do caminho escuro e percebi inúmeras portas.Não entrei.Alcancei o final do cômodo, mergulhei na luz e percebi que havia adormecido e no sofá ainda me encontrava deitado, olhando o ventilador girando, empoeirado no teto. Não tive forças, nem coragem de me levantar. Sentia ainda vívida a sensação de olhar aquele homem, que a saudade me trouxe.A casa, com ares de familiaridade  e nela a figura viva de meu pai que então, até o presente momento, não havia lembrado na minha existência como filho impregnado de remorsos, com o doloroso sentimento do tempo perdido e o passado inatingível.

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